Lílian Maial

Basta existir para ser completo - Fernando Pessoa

Textos

De como cinco poetas do cordel fizeram farra na Bienal de Sampa 2006
De como cinco poetas do cordel fizeram farra na Bienal de Sampa 2006
Lílian Maial


Esse ano a Bienar
Reuniu os cordelista,
Gente assídua na conquista
Dum espaço popular,
Poesia de encantar
Quem folheia com vontade
As estrofe da verdade
Que se canta sem tê medo,
E eu aqui nesse arremedo,
Já no tempo da saudade.


O cordel é que nos ligô
E levô a esse dia,
De ansiedade e alegria,
Misto de riso e amô,
Mas entendam, por favô,
Tudo dentro da pureza,
Que a poesia é certeza
De muita felicidade,
De tanta fraternidade,
Como criança indefesa.


Pra celebrá essa data,
Resorvemo ih almoçá,
Pramodi a gente mirá
O sorriso de ouro e prata
Dos mancebos e das gata,
Gente boa do cordel,
Então marcamo no hotel,
O tar de Fórmula Um,
Num tinha Ayrto nenhum,
Só o “Rubinho” Daniel.


Era o Fiúza em pessoa,
Um cabra que eu num entendo,
De sobrenome “Pequeno”,
Sendo tão grande e à toa,
Numa sexta – vida boa,
Quando os patrão tira o couro,
Essa amigo, que é tesouro,
Levô nós pra passiá,
Fez de tudo pra agradá,
Chegamo no Miradouro.


O resto dos companheiro,
Que eu num fartei de abraçá,
Era Herculano Alencar,
Cabra sestroso e faceiro,
De riso largo e maneiro,
Doutor das pele e algo mais,
De umas duença mortais,
Cum ele num tem mutreta,
E diz que a coisa tá preta,
Ou faz direito ou tá fora,
Vou lhes contá bem agora:
Trabalha com DST/AIDS.


O outro que ocês já sabe,
Aquele amigo Jorgim,
faz muito dengo pra mim,
c’um coração que lá cabe
Mais gente que uma aeronave,
Que o peito chega a explodí,
Mas num é só por aí,
Que dos númo ele é o tal,
Na Receita Federal,
É Leão que vai rugí!


Pra num deixá na falseta,
Que cordel num tem muié,
Trouxe uma mana de fé,
Muito apegada das letras,
Eu falo de Angela Bretas,
Que veio lá dos Esteites,
Jornalista sem azeites,
Mãe e muié batalhadeira,
Enfrentou muita brabeira
Pra conquistá seu lugá,
E acabou de publicá
“Brava Gente Brasileira”.


Eu de mim num vou falá,
Pramodi num parecê,
Que eu só quero me fazê,
Nessa tar de Biená,
Então vô aproveitá
E lembrá de arguns fartosos,
No cordé são tão garbosos,
Num precisa sê um gênio,
Pra sabê que é de Rubênio
Esses verso mais saudosos.


Lembramo da nossa Mila,
representante de elite,
das muié que dá parpite,
nas coisa simples da vida,
pessoa muito querida,
Milene que a todos arde,
mas num é moça covarde,
que ela é boa nesses verso,
e eu senti falta, confesso,
da minha amiga das arte.


Vortano pro Miradouro,
Que esses verso tá é bão,
Jorgim pediu pro garção
Bem na cara, sem decôro,
Como fosse um desafôro,
Uma dose de “Toddynho”,
Pra cumbiná com Jorginho,
Como num tinha – ora veja –
Ele disse: “- traz cerveja,
Ou senão taça de vinho!”.


Heculano – o Culinha –
Já cansado de duença,
Quis marcá sua presença
Provocando risadinha
E contava piadinha
Que a Bretas num entendia
Mas mermo assim ela ria
Pramodi mantê a pose
Até que o amigo fartou-se
Pra ouvi o que ela dizia.


A Bretas contô a sanha
Duns caubói muito esquisito
Que convidô seu marido
Pra subi numa montanha
E criá cabra e piranha
Mas os homi acabou só
Na minha cuca deu nó
Quando ela falô de beijo
Que eles deu num sertanejo
Proveniente de Icó.


Daniel sacô de um naipe
Retirou duma caixinha
Um punhado de bolinha
Que engoliu num “vup-vaip”
Era um tar de herbalaif
Que ele diz que deixa magra
A pessoa que ele flagra
Precisando do “pré-love”
Se num dé certo devorve
E vai comprá o Viagra.


O Cula diz que o Viagra
Dá cegueira obstrutiva
Mas deixa a pessoa viva
Sem o mal que era uma praga
E o Jorginho sai na marca
cuma frase de clichê
Pra ninguém nunca esquecê
Que a frase é boa, eu num nego
Ele diz que o pió cego
É aquele que num metê!


No meio da refeição
Carne de sol com quibebe
Num é que o Dani se atreve
A causá indigestão
E tira do sacolão
Botano em cima da mesa
Uma garrafa beleza
De conteúdo suspeito
Queria de todo jeito
Dá xixi de sobremesa.


Depois de tanto alarido
Tê causado a nossa fúria,
a urina tinha hematúria,
que os dotô são entendido.
E vei logo os cumprimido,
Que ele deu pra todos nós,
Porque num tinha Hipoglós
Pra saná as assadura,
Distribuiu cum fartura,
As pílula do dotô Ross.


O povo entusiasmô
E no lugar do Toddynho
O nosso amigo Jorginho
Num resistiu, se entregô,
Bem na frente dos dotô
Enguliu os comprimido
Cum dois chopp e um estampido
O troço desceu redondo
Num vô contá o hediondo
Do companheiro assumido.


Adispois do acontecido,
Jorginho ficô calado,
Mas a Bretas do seu lado,
Cochichô no seu ouvido,
O Cula muito inxirido,
Cum aqueles olhos de mousse
Impossíve iguar Tom Cruise,
Descobriu com sua espreita
Que a Bretas deve à Receita,
Vai pro Talavera Bruce!


Depois de tanta risada,
A turma não se continha,
E um tar da mesa vizinha
Já tava nas gargalhada,
essa gente atrapalhada,
tão alegre e tão confusa,
da alegria inté abusa,
mas é tudo no afã
de conhecê o Nathan,
como disse o Domfiúza.


As muié num falô nada,
Tava tudo mastigano,
E encantada com Herculano,
A Bretas ficô parada,
Ou então atordoada,
Tentano ainda entendê
A piada de michê
Sem tirá prova dos nove,
Tava comendo “pré-love”
Que o Fiúza qué vendê!


No final, vô lhes dizê,
Herculano levantô,
Parecia uma de horrô,
Ele tinha que corrê,
E ninguém conseguiu vê
Onde tal pressa se encontra,
Se é do intestino, é na ponta,
Mas a gente num deu fé,
Que na hora do café,
Ele foi é pagá a conta.


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Lílian Maial
Enviado por Lílian Maial em 18/03/2006


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