Lílian Maial

Basta existir para ser completo - Fernando Pessoa

Meu Diário
14/11/2015 15h05
TRINTA ANOS

®Lílian Maial

 

 

Trinta anos, trinta dias, trinta minutos... Quando foi, mesmo, que fizemos a faculdade?

Foi ontem, quando lutávamos por nossas ideias entre uma aula e outra.

Anteontem, uma comemoração no bandejão ou na birosca no final da trilha.

Hoje, um tempinho de nada logo depois, e temos tantas histórias para contar, temos o registro de mais de 300 vidas entrelaçadas pela vida!

Sempre ouvi as histórias dos pacientes, seus anseios, seus medos, suas dores, conquistas, amores. Mas hoje quero ouvir e saber de você.

Como viveu até aqui? Conseguiu o que sonhou? Encontrou o amor? Tem família? Ainda tem sonhos por realizar? Nesses anos todos, pensou em nós, em nossos caminhos por tantas aulas cruzados? O que aprendeu e ensinou nesses 30 anos?

Todo ano, no Dia do Médico, penso em você. Penso em como você deve viver Seu Dia: um trabalho de parto pela madrugada, uma cirurgia na hora do almoço, uma aula para os filhos de alguém, quando você nem ouviu o seu dizer, pela primeira vez, “papai” ou “mamãe”. A cada ano, renovamos o juramento que fizemos ainda crianças, quando brincávamos de médico e sabíamos que não escaparíamos do destino.

Uma vez escrevi que a poesia era um vírus que eu havia pego na infância: meus amigos tinham catapora, eu tinha poesia. Hoje eu sei que contraí diversos vírus, e a Medicina foi um deles. Pequenininha já sabia. Acostumei com a brincadeira de criança. Eu me pari de branco.

Cansaço? Sim. Decepções? Muitas! Mal remunerados? Tremendamente. Desistiria? Jamais!

Se há algo a lamentar, foi apenas o fato de não poder ter conhecido você mais profundamente.

Fui muito feliz com você, em cada dia que nos vimos. Você faz parte do meu passado que voltou ao presente, como uma gaveta querida, onde encontrei uma jóia deixada lá no fundo por muitos anos. E descobri que ainda reluz intensamente!!!

Estou muito emocionada e feliz.

Vocês, minha turma de 1981, são como uma doce tatuagem que a vida imprimiu na minha pele e na minha alma. Estão lá, sorrindo para mim todas as vezes em que olho para o que me tornei.

 

Sei que o sentimento é comum a todos. A época da faculdade somava muitos valores maravilhosos: juventude, inocência, molecagem, sonhos, escolhas, liberdade, amor, medo (que dá um bocado de adrenalina) e vitória. Não há como não ser feliz.

Cada um seguiu seu curso, porém, sempre ligados por essa linha imaginária que nos transpassa e une, onde quer que estejamos, que é o amor ao próximo e à nossa Medicina.

É muito bom poder comemorar esse dia, sabendo que perpetuamos a fidelidade aos princípios que sempre nortearam nossas vidas desde muito jovens. Tenho muito orgulho de ter convivido com você.

Na minha vida já fiz muitas coisas: já saí na chuva sem proteção de propósito, já comi cobertura de bolo escondida, raspei panela de brigadeiro, raspei as pernas, mudei a cor dos cabelos, das unhas, dos olhos, já engordei, emagreci, já dei boas gargalhadas, já chorei em público (e sozinha no chuveiro), já quis cortar custos, algumas pessoas da minha vida, os pulsos algumas vezes; já apontei estrelas e corri para o espelho pra ver se aparecia verruga na ponta do nariz, já levei tombos sinistros, já tomei porres homéricos, já jurei pra sempre, ri no parto, prometi esquecer e logo me lembrei que não conseguiria, enxuguei lágrimas, desenhei castelos (e morei em alguns suspensos no ar), chupei fruta na feira, me lambuzei de felicidade, me apaixonei pelo obstetra (só até o parto), morri de amor, morri de saudade, morri de raiva, e renasci tantas vezes, só de teimosia, enverguei até o chão, mas nunca quebrei; vi sombras nas paredes, desenhei coisas em nuvens, me apaixonei por artista de cinema, me achei mais bonita que as estrelas, me xinguei mil vezes no espelho, conversei com minhas plantas e fiz confidências a passarinhos, derramei lágrimas de saudade, sorri com a chegada, lamentei não saber das coisas com antecedência e agradeci por não poder prever o futuro; plantei árvores, criei filhos, escrevi livros, e agora eu sei que nada disso teria o mesmo sentido se não fosse por você, que está rindo e pensando que tudo aquilo ou boa parte do que escrevi aí em cima você também já fez ou pensou. E sabe por quê? Porque somos irmãos de sonhos. Somos da mesma geração, da mesma luta, dos mesmos ideais. Temos a consciência coletiva da missão que nos coube e que a vimos cumprindo bem. E a certeza absoluta de que começaríamos tudo outra vez.

Vivamos todos nós!

Parabéns a todos!

Feliz reencontro para vocês, meus amigos! Não estou de corpo presente, mas meu coração está com vocês há 30 anos!

 

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Publicado por Lílian Maial em 14/11/2015 às 15h05



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